Como Ser Feliz Com os Prazeres Simples da Vida?
Aquilo que é simples pode ser aproveitado com grande prazer se nos abrirmos para o que nos é oferecido sem grandes estímulos. Nem sempre será o que é o mais atrativo à primeira vista, porém se trata do que é necessário que nos traz algum significado, mesmo sendo feito de aspectos simples da vida. Um problema que, ao meu ver, é um sintoma de uma causa muito profunda, é o fato de que tais prazeres simples não são vivenciados como antigamente. Não é preciso retornar ao tempo de nossos avós para vermos a diferença. A compreensão de que, talvez, há dez anos atrás as coisas não eram tão veementes como são hoje, nos ajuda a entender o problema, mesmo com uma dose de negação. A negação ajuda a continuar um estado de coisas que desfavorecem a nossa capacidade de compreensão de que há um problema com a nossa capacidade de sentir prazer. Se há um problema, precisamos resolvê-lo, primeiramente entendendo a sua realidade. Mas, sobre o que se trata essa realidade? Ora, os prazeres mais simples da vida estão sendo substituídos por doses cada vez mais fortes de estímulos que, muitas das vezes, se colocam em nossa frente com um alto poder de atração, sendo difícil de resistir e superar. Praticamente todos os estímulos, sobretudo visuais, nos tornaram dependentes. Não basta somente o uso irrestrito de material adulto. Hoje, as pessoas deixaram de viver uma vida normal para estarem presas em conteúdos fúteis na internet, seja vídeos curtos para passar o tempo ou nas redes sociais acompanhando um "avatar" que nada agrega em suas vidas. Uma coisa acaba puxando outra e quando se dão conta — se é que percebem alguma coisa —, estão completamente viciadas em algum tipo de droga ou comportamento. A resposta que os seus cérebros concedem a esses estímulos é positiva no momento inicial, até se tornar bastante negativa com o passar do tempo, sempre exigindo doses cada vez maiores para sentir algum prazer, mas o nível de satisfação diminui progressivamente até não causar mais nenhuma satisfação. Se o seu viver diário é baseado no Hedonismo (fazer do prazer um bem maior, o transformando em um estilo de vida, sendo a busca do prazer por si só), você acabará na Anedonia (incapacidade de sentir prazer). É a verdadeira "ânsia de ter e o tédio de possuir", parafraseando Schopenhauer.
O centro do problema físico de não sentirmos prazer com a mais pura simplicidade, como mencionado, anteriormente, pode ser oriundo do exagero trazido através do alto estímulo cerebral, causado por sensações transitórias que não são tão profundas quanto as demais coisas que demonstram ser mais duradouras em essência. Tais coisas duradouras podem ser mais simples à primeira vista, mas são complexas quanto a nossa razão pode compreender, diferentemente da transitória que possui um alto poder estimulante logo no primeiro contato, porém não é algo que eleva o espírito e, por isso, torna-se algo meramente passageiro. Essa é uma questão física que afeta o cérebro humano e não compreendemos pela razão de agirmos na ignorância de uma vida pouco voltada à compreensão de aspectos fundamentais que nos mantém de pé. Esse é o primeiro nível básico que nos torna semelhantes a qualquer animal, cujo cérebro busca por sensações que venham saciar certas vontades um tanto primárias. Subindo um pouco mais o nível, existe o que afeta a parte metafísica do nosso ser, totalmente ligada ao cérebro como sendo uma parte inseparável, que chamamos de Alma, o sopro que anima o corpo humano que o torna distinto dos animais irracionais. Certas respostas que damos a essas questões envolvendo o prazer são provenientes do que as nossas almas buscam o tempo todo: um preenchimento do vazio que nunca é preenchido com coisas físicas, cuja natureza se revela em algo efêmero. A resposta que o cérebro humano é capaz de conceder a uma alma que se encontra vazia — do que constitui um propósito a uma realização pessoal — pode ser infinita, porque essa busca se trata de algo que é buscado de forma constante. É uma busca que não encontra um fim definitivo. Isso responde o porquê que não somos capazes de sentir prazer com coisas simples. Estamos tão preocupados em buscar prazer com coisas rápidas e altamente estimulantes que adaptamos o nosso cérebro a ser somente estimulado por essas coisas, que revelam o que nossas almas buscam, afinal: um propósito e uma realização, capaz de saciar a fome de felicidade que, de forma desesperada, buscamos o tempo todo em qualquer lugar que possa estar disponível. Nem sempre aquilo que, supostamente, está disponível responde a ânsia de ter que está presente no fundo de nossas almas. Por esta razão, buscamos uma felicidade que nunca é alcançada definitivamente. Talvez ela esteja em outro lugar e não percebemos. Não temos mais a sensibilidade necessária para perceber o que isto significa.
Um certo grau de conscienciosidade deve ser gerado para desfrutarmos do mais simples dos prazeres, que não são tão atraentes a curto prazo, mas que revelam ser mais consistentes a longo prazo no tocante a preencher espaços vazios, indo contra ao que a tendência humana busca como alívio, cujo impulso é se inclinar a tal espaço vazio como um refúgio para não encarar a complexidade desafiadora que a realidade impõe, anestesiando a si mesmo porque não deseja perceber as coisas como elas são e os possíveis erros que, em vias de regra, comete em sua trajetória sem sentido. Essa conscienciosidade permite ser metódico para perceber detalhes um tanto ocultos para a maioria das pessoas. Esses detalhes permitem sentir — mesmo que menor — o mais simples prazer que está diante dos nossos olhos, em que temos um certo domínio para se permitir desfrutar aquilo que faz parte da nossa vivência humana. Isso pode ser desenvolvido mesmo quando a mente ainda possui certas inclinações negativas, porque é uma habilidade que pode ser criada a medida em que o intelecto avança para as mais altas esferas de entendimento da realidade, que não se prende a apenas uma fração minúscula distorcida de mundo, mas que consegue captar as informações e entendê-las a fundo em um processo criterioso de estudo e análise. Ao contrário disso, a sua escassez gera essa falta de percepção ao que é mais simples, que possui o seu grau de importância no mundo real à medida em que é compreendida em seus aspectos fundamentais inteligíveis. Pessoas pouco voltadas a um certo grau de conscienciosidade tendem a priorizar a diversão momentânea como o único e necessário para tornar suas vidas felizes. Não são capazes de postergar certas recompensas, porque o prazer rápido da recompensa imediata é o que importa. Pessoas assim são descritas como indivíduos descontraídos, relaxados e não comprometidos com aquilo que tem importância. A consequência é o previsto: não darão importância aos prazeres simples, muito menos aos mais complexos.
Sempre é necessário compreendermos o vazio em que nos encontramos, sobretudo aquilo que as nossas almas buscam o tempo todo como resposta. Se estamos vazios e perdidos nas contrariedades que a vida nos impõe, o prazer rápido, fácil e altamente estimulante se mostra a única saída possível para uma vida tediosa. A vida se torna um tédio do absurdo que aceitamos como algo natural, a ponto de postergarmos a solução para continuarmos em uma miséria que insistirmos em chamar de vida. Não atrase o que sua alma busca como propósito indo atrás de coisas vis. Não se prenda ao fútil que não responderá ao que está no mais íntimo do seu ser esperando uma resposta. Seja capaz de esvaziar a sua mente do que não tem valor e aprecie o que é mais simples que está à sua volta. Apreciar o mais simples pode ser o início da sua jornada em busca de algo realmente gratificante, que tem o potencial de te trazer alguma felicidade, sendo capaz de tornar a sua vida um pouco mais leve e menos complicada. Mas antes, reflita: quando foi a última vez que você foi capaz de apreciar uma bela paisagem? Quando foi a última vez que você se permitiu sentir as sensações naturais que os seus sentidos são capazes de captar? Se permita sentir o vento tocar em seu rosto. Veja as folhas das árvores balançando. Vislumbre as nuvens no céu, os pássaros voando e os raios do sol aquecendo a sua pele. Pense: você ainda é capaz de conversar com alguém olhando nos olhos, sem aquele impulso de olhar as notificações no seu celular? Você é capaz de apreciar uma bela refeição sem ter aquela pressa de terminar? Você é capaz de se socializar com outras pessoas pessoalmente, olhando nos olhos de cada um e prestando atenção na conversa com total atenção no que o outro está dizendo, mesmo sem ter muito interesse no assunto? Você é capaz de ler um bom livro, a ponto de mergulhar profundamente naquilo que o autor está falando? Isso, portanto, são exemplos de coisas simples que podemos vivenciar lentamente sem grandes estímulos transitórios, capaz até de nos deixar boas memórias que alimentam a nossa alma. É algo saudável que mantém o nosso cérebro equilibrado, e se nos permitirmos sentir esse prazer que as coisas mais simples podem nos proporcionar, a nossa vida terá um diferencial. Nada será como antes. Desta maneira, seremos capazes de sentir o que é a verdadeiramente felicidade nas coisas simples. Nem sempre o que causa maior estímulo cerebral é o que te deixará feliz a longo prazo. O simples pode ser transformador. Às vezes, a felicidade pode estar diante dos seus olhos e você não a enxerga por ela ser tão simples.
Verdade! Devemos dar mais atenção para as coisas simples e belas da vida.
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